20 de maio de 2010

Delirium Vibratum

"... I'm not saying anything you haven't heard before ..."

“Não. Simplesmente não”. Toda vez que perco o rumo da realidade e introjeto-me dentro, é isso que ouço. “Não. Simplesmente não”. Várias coisas passam por entre os espaços dessas palavras, várias delas até fazem parte das próprias palavras, outras nem me pertencem. Muito, aliás, não tem me pertencido. Como se pensar não fosse parte de mim, mas parte do mundo como um todo e indiferente a minha vontade singela por silêncio.
Crises de dor de cabeça incrivelmente torturantes correlacionam-se com pensamentos angustiantes seguidos de “Não. Simplesmente não”. Agora, saber demais é algo imperioso, e é disso que você gosta. Admira o tempo perdido vivendo a vida, e ressente-se por isso. Viver não é nada perto do que é vida de verdade, mesmo tendo sido pra você absurdamente valioso em tempos remotos e nefastos e profanos e confusos. Se lá valeu a pena viver, aqui não seria diferente, nem mesmo seria digno indecorar as próprias escolhas. Acho que já esqueço do que é o arrependimento e já não sei mais do que é o ressentimento. “Não. Simplesmente não”. A gente nunca sabe até que procura no dicionário e não encontra, e sente o vazio da ignorância analogando com a própria realidade fugitiva. Papeis aos quilos, textos aos bíblicos níveis da leitura, tempo aos mirrados dias que passam durante uma semana desgarrada de mim mesmo: Você leva uma vida completamente diferente do que levava.

Andar te tortura, é a proeminente necessidade de ver as coisas como elas são que te tornam um pouco menos amigo de si mesmo e, caminhar consigo passa do paraíso ao inferno urbano em apenas alguns passos e algumas flores. Não é ruim, apesar do parecer. Já está inerente e correndo de fora pra dentro a noção de felicidade conspirada no dia a dia, essa mutável felicidade. Felicidade é tudo e não é nada. É perder o valor e ganhar uma bolada! Ou então dormir quando se está atrasado, e acordar cedo.

O café virou seu amigo. Você é mais um cracudo do café por aí. Perdeu o gosto por cigarros e, esporadicamente, fuma um ou outro por pura psicologia reversa. Relembrando o passado com fumaça que se esvai; ótima estratégia. “Não. Simplemente não”. Não sente mais necessidades, não ouve mais aquelas coisas que não fazem parte da realidade, está vazio. Você está vazio. Não há mais um caos dentro de você, somente. Ao contrário, e não somente, ele está do lado de fora, e de forma harmoniosa comigo e consigo, ambos “caotizam” juntos, sem notar que anulam-se. Você anula o mundo, e vice-versa.

Você se torna cada vez mais desconexo à Ele. Perde na memória as coisas e ela dá uma volta por aí, sem te avisar quando volta. Dorme fora as vezes. Passa por momentos memoráveis, por pessoas memoráveis, lugares memoráveis: mas esquece. No raiar seguinte do sol, já não há mais nada ali. Nem mesmo os sentimentos (seus amigos de confidência que sempre estavam presentes para lhe relembrar quando as memórias lhe faltavam) estavam  aparecendo prum café.

Você larga de mão, atola-se em textos alheios que esperam por uma correção sua e passa a ler vidas em linhas. Passa a pensar e  a escrever de si próprio na terceira do singular, e vezes repetidas, em duas pessoas diferentes. E narra. Narra cada passo com o descritivismo de um parnaso-realista pós fada-verde. O tempo é tão pouco, a vida é tão intensa, que até você perde a graça pra você mesmo. Os interessantes não te vêem igual, você desbota em segundos o que levaria anos para desbotar. E colore novamente espontaneamente. Você é estranho.

Você não pensa no que escreve, não escreve o que pensa; realmente, ter um futuro à vista te deixa completamente desnorteado.


Está uma merda (: