Hoje é uma segunda feira. Início de uma semana, início de um ciclo novo, início. Não para ele.
Coitado dele...
Os dias seguiam a confluente sina de uma vida sem sentido, onde o sentido se abrigava e reconfortava-se dentro dos outros, seres vivos, dotados de sentido (ou não, segundo alguns deles), mas que aos seus olhos possuíam sim sentido próprio. Seu sentido era diferenciado do dos outros, era cinza, era branco, era preto, era marron. Mas nunca verde, ou azul, ou roxo, ou vermelho.
Perdia-se nas contas que fazia, tentando calcular as dores que podia ter um dia vivido se tivesse permitido-se o viver que imaginou um dia. Hoje, sabia que era impossível. Mas, mesmo assim hoje, ele também cria outros novos 'impossíveis viveres', nessa fuga incansável de querer não precisar mais querer.
Ele arranca os braços e as pernas, num sacrifício já pré-determinado, tentando a todo custo fazer a diferença numa vida qualquer. E essa vida qualquer lhe ganha apreço, e as incalculáveis dores desse apreço surgem, pouco a pouco, muito a muito, e fazem com que o incomum rapaz recue para dentro do vazio que ele vive. Ele vive não vivendo, ele é presente sendo ausente. É assim que aprendeu a lidar consigo mesmo, alguem que ele não entende, ante um mundo que não se entende mais ainda.
Ele vai trocando as pernas nos caminhos tortuosos de uma rua e, espera esbarrar numa milagrosa alma enviada de algum lugar melhor.
Ele espera por milagres. Ele espera por ele mesmo.
Ele faz, ou pelo menos tenta operar milagres. Na verdade, ele se faz de instrumento para a libertação e evolução alheios, mas sente que tambem é parte do todo, mesmo não tendo feito efetivamente nada. Ele vive fazendo tudo, que é nada.
Ele não dá valor às própias ações, porque as ações dele se perdem. As ações dele são palavras, nada mais. Ele não é ação, de fato. Ele provoca, ele engatilha, ele enche de pólvora o canhão, ele põe o balaço, ele acende o pavio. Mas se o canhão não quiser explodir...
Ele vive se encostando na esperança dos outros, esperando feito um cachorro que espera pelo acalentante caor da mão humana, do seu dono, porque se sente protegido debaixo daquela mão. E ele sente vergonha do que existe dentro dele. Ele vira tudo que não é para ser alguem melhor.
Ele não é ruim, ele não é mal, ele não é mau, ele não é nada negativo. Mas negatividade é o seu oposto, é o que faz com que ele aprenda cada vez mais a entender o que ele é. E sempre parece tão pouco diante dos poderosos olhares que as pessoas amadas lhe projetam... esses olhares, desprovidos, mortificados e mortificantes. Os olhos vazios.
O vazio o consome, o enche de si mesmo, o faz sentir-se repulsável, descartável e inútil. Ele perde o rumo dentro do vazio, onde muita gente iludida acredita ver tudo. E não há nada.
Ele chora, ele grita, ele esperneia, ele xinga e provoca quem ele mais ama. Ele faz tudo o que não é, porque não admite a si mesmo num mundo inadmissível para ele próprio. Ele come da comida que o alimenta, e pede para o dia acabar sem vontade de comer. Ele não vê o sentido dentro dele.
Ele então, para não se desesperar, vive na aba do amor e ajuda aos amados a encontrarem suas respectivas trajetórias, sejam quais forem, sejam os caminhos que forem percorridos, ele segue. E geralmente ele morre mais um pouquinho nesses caminhos.
Um sol que nasce para o seu amado, é mais um poente nos seus olhos. Ele não vive, e vive intensamente.
Ele perder, pra ganhar. E nunca ganha, mas se sente um vencedor. Ele é tudo o que não é.
Ele destrói, ou tenta destruír tudo o que ama, tudo o que o ama, tudo. Ele vira do avesso de novo, e nada lá aparece. Só é mais uma mesma face do terrível mal que ele não é.
Como chora essa criança... esse menino que é tão pequeno, mas tão grande...
ele não é nada, mas pode tudo. Mas abre mão de Deus e do mundo, só na esperança de dar um mundo inteirinho pra alguém que faz o seu coração sem sentido ter algum sentido...
Ele diz possuir sentidos na sua vida. Ele diz isso aos amados, aos poucos.
Mas, infelizmente, nem todos os amados são amáveis. Uns tem defeitos mortais, que o mortificam mais ainda. E ele perde as palavras e, fica sem graça. Fica sem graça de amar pessoas com defeitos tão absurdos...
E se pergunta ele: "- Sou eu digno de pensar que sou perfeito? Sou tolo o suficiente de acreditar que poderia pensar que sou próximo do perfeito? Sou eu apenas mais um diferente? O que me completa? O que ressucita o morto-eu que 'vive' dentro dessas paredes brancas que é? Sou vivo?"
Gosto muito de te ver, Leaozinho.
Caminhando sob o céu frio e azul das manhãs.
Gosto demais de você, Leaozinho.
Para de se entristecer, Leaozinho!
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
Fica feliz que só!
É. Ele não se entende, tem vergonha de sí.
Que droga. Ele não tem mais forças.
Mentira dele, ele tem sim. Mas as suas forças são tambem suas fraquezas.
E o abraço o faz chorar até hoje, todas as noites, ou seja lá qual for a hora em que ele se lembra.
Que faz ele?
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