12 de outubro de 2009

Nós não estamos sozinhos, estamos à sós.

"O Amor nos tempos de Cólera."

O quê esta frase lhes disse?
Acho que sou megalomaníaco, mas acredito poder escrever sempre, por sempre ter muito a dizer. Muito a quem dizer, por quem dizer. Mas, por via de uma consciência externa, me percebo como alguém mais uma vez falando se si próprio.

A minha mais nova conclusão do porquê desse crescente movimento de pessoas que, quando escrevem, escrevem sobre si, nos diz que é resultado de um processo de individualização do indivíduo. Mais extremo do que parece ser pelo nome, é algo como a inserção da individualização, processo esse necessário, a individuação do ser. Estamos nos vendo como seres desnecessitados de outros seres, ou que, simplesmente, percebem outros como asceclas pessoais.

Ha alguns anos vem ocorrendo esse processo que pode ser tido e dito como "A Objetação do Homem". A cada dia, cada vez mais e mais o Homem tem se tornado objeto do Homem. Uma louca e amarga cultura do eu sozinho cresce a cada instante, a cada sorriso não dado,a cada abraço negado e a cada palavra feia que é dita.

Amor nos Tempos do Cólera, livro de Gabriel García Márquez que me inspirou a frase lá do início, conta, principalmente, a história de um homem que vive por cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias longe de seu amor, e morre por essa triste saudade. Um livro muito interessante que me fez, em conjunto com outro conjunto de palavras, escrever este texto.

Já fazem alguns dias que não deixo aqui um texto meu. Ando escrevendo somente coisas pessoais, mas Deus entende.

Tanto o bom velho me entende, que de modo não menos agradável e doce me presenteou com um texto amigo. Um texto feminino, ainda (aprecio os textos femininos, assim como as femininas escritoras). Conclusivamente um estímulo às minhas palavras e à minha caneta, que já quase acaba.

Um desabafo, meus amores. Tudo de que eu precisava: um desabafo. Um belo conjuto harmonicamente jogado de palavras e muito sentimento. Tanto eu dele precisava, como de mim, ele, a mim mesmo esperava. Um desabafo doce e simples. Um desabafo com uma amorosa tentativa de complexidade. E bato palmas e canto loas ao teu empenho, seguramente alcançado.

Necessariamente, alguns muitos desprezariam um desabafo, bom ou mal, perfeito ou ridículo que fosse. Admitam: A ideia do desabafo alheio lhe incomoda o vêntre. Pois que é, muitos de n´s negariam esse precioso veículo de intercomunicação de sentimentos. Muitos de nós se dizem ocupados demais, preocupados demais, cansados demais para ouvir alguém.

Sempre queremos o "venha a nós o Vosso Reino", mas nunca, jamais admitimos "que seja feita a Vossa Vontade".

Assim na Terra, como no céu, fazemos questão de nos mostrar como pessoas cansadas, ocupadas e preocupadas demais quando nos é pedido um pouco de atenção e carinho. Um absurdo, primeiro por não sermos realmente tão ocupados e cansados assim, segundo, por mantermos externamente o extremo oposto. Fingimos sermos perfeitos e autossuficientes, quando na verdade, na pura e profunda verdade, não somos o primeiro, e muito menos, de longe, podemos sempre ser o segundo.

Nos é preciso cair na aceitação da realidade, para podermos enfrentá-la. Vamos lá, admitam! Admitam logo que nenhum de vocês é realmente pra baixo sempre, ou exclusivamente pra cima o dia todo. Eu mesmo escrevi até agora usando a primeira pessoa do plural. Vivemos numa época paradoxal e profundamente superficial, onde os limites da comunicação vão se extinguindo e, talvez por isso, as pessoas tenham perdido o precioso senso de valor das palavras.




Incrível como conseguimos fazer com que, em 140 caracteres, um número qualquer de indivíduos se sinta, falsamente, parte do nosso cotidiano. E enganamo-nos, o que é terrível. O mais curioso, porém, é que mesmo com toda essa evolução tecno-comunicativa, ainda não consigamos olhar nos olhos de alguém ao lhe dirigir a palavra. Não conseguimos nos permitir tocar uns aos outros, trocar sensações básicas enquanto trocamos palavras.

É realmente um mundo paradoxal. Um paradoxo essa mistura de esperança e desesperança que a nossa época nos instaura. É triste perceber que muitas pessoas boas têm de se utilizar, de modo desesperado, de coisas que são normais.

Sinto inveja dos idílicos anos 70.

Desculpem-me pelo desabafo, mas acredito que andamos agindo como seres inferiores, se esse conceito de inferioridade existir, de fato. E eu vou continuar ouvindo todos os desabafos, de todas as pessoas amáveis. Prazerosamente.





As pessoas amáveis realmente merecem ser amadas.

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