11 de fevereiro de 2010
A inconstância que consome criando
Nunca foi de paciência que se fizeram os bons momentos. Sempre que se passava por um desses, era-lhe mais fácil jogar as mãos encima e transformar o que fosse em algo menos necessitado dessa tal "Paciência". Coisa de nome feio, com cara de coisa feia!
Tinha um certo receio de tudo que lhe pedisse paciência. Paciência não dava em nada e só tirava: tirava o tempo, o gosto, o prazer, a aventura... e "Paciência" nunca foi tão interessante. Só via gente paciente, triste. Quem era paciente nunca lhe parecia feliz, ou mesmo alegre.
Sempre diziam-lhe, os "pacientes": "-Tenho paciência porque é ela que me ajuda a ter aquilo que quero." Nunca teve tempo de ver essas conquistas. Enquanto esperavam, ele já estava em outro lugar do mundo, ou o mundo mesmo havia mudado completamente à sua volta sem mais nem menos. E gostava mesmo era disso. Não menos esperava e,
Havia tudo mudado de lugar. Ficava tudo meio diferente e ebmrlhaado, pedindo pra ele com um tom de súplica indiferente uma ajudinha. Uma mãozinha, uma mãozinha...
E era isso também, não só a mudança, mas as suas mudanças. Ele agindo, ele fazendo, ele ali, no meio; não um "paciente" que sempre espera. Talvez um impaciente, que para ele era quem fazia os pacientes pararem de esperar. Ficava tão contente apenas em contemplar a alegria nos olhos dos que deixavam de ser pacientes que esquecia-se da sua. E não havia quem lhe lembrasse nesse mundo disso, ou de qualquer coisa. Ele sempre mudava, sempre saía e nunca que voltava, mesmo se fosse-lhe a saudade perturbar a vida. E quando ele via que voltava, já via que não era mais ele: já não se via e nem ao mundo com os mesmos olhos. Nunca voltara.
Um dia, ou uns dias, o mundo mudou à sua volta de forma tal que ele sentiu dor. Foi tudo muito rápido e ele não teve onde se segurar. Quem estava por perto sumiu, e ele não viu mais nada.
Escuro.
Quase foi parar no hospital de tão forte que foi essa guinada! Mal podia sentir as pernas no final de tudo. Na verdade, não sentia as pernas, mas não se incomodava muito com isso. Pelo menos eram mais fáceis as caminhadas, que mais pareciam voos plenos e vez por outra razantes em abismos. E quando ia fundo, sentia pena. Sempre via alguém lá embaixo e sentia vontade enorme de grande de puxar pra cima, de volta à vida. Queria dar-lhe asas e dar-lhe olhos e dar-lhe abraços e dar-lhe mel. Queria poder voar junto.
Mas nunca aconteceu. E ele também nunca sentiu-se mal por isso; sabia que não voaria junto, mas que também jamais cairia junto. Não acreditava em quem lhe dizia que "talvez, um dia, você encontre alguém por quem valerá a pena cair do mais alto!"
O que valia a pena nunca lhe teve pena. Não entendia essa coisa, parecia até ser ligada à essa tal "Paciência": "Tudo que é bom causa dor", "A alegria é o intervalo entre duas tristezas". Comia mel desde sempre e nunca sentiu dor por isso, só quando comia demais. E não pensava que haviam intervalos: acreditava que quando ficava triste, era motivo de alegria. Sabia que havia sido o mais alegre possível antes e que, em breve, o seria novamente. Aproveitava cada momento de tristeza lembrando-se dos de alegria e olhava ansioso para o futuro querendo ser alegre novamente. E gostava principalmente quando não havia "intervalos" entre suas alegrias.
Acreditava muito mais do que em só duas pontas nas coisas: Bem e Mau, Certo e Errado. Talvez o exemplo mais perfeito era o da "Direita e Esquerda", pois enquanto muitos pensavam que só poderiam escolher um desses dois, esqueciam-se de olhar o mais óbvio: A frente. O meio.
Era assim que pensava sobre as pessoas, as coisas, sobre o mundo. Tudo havia mais em tudo. Nada era só "aquilo" e ponto.
Também não gostava de pontos. Nem de finais.
A imagem do homem atravesando a ponte. Não preciso explicar, só focar nela. E, bem, mais um texto surrealista na casa de um estranho.
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Senti falta das suas palavras, João.
ResponderExcluirEu também não gosto nada dessa altivez toda vinda de um sinal tão minúsculo.
ResponderExcluirE no tudo que ainda há em tudo, sempre há ainda mais um pouco. Ainda bem.
De uma estranha pra um estranho: reconhecimento.
Beijo pra você.