Então eu sonhei depois de tanto tempo. Precisei escrever algo, e precisei postar algo. Faz 2 semanas que isso aconteceu, e eu sei bem o por quê. Espero que quem ler, também saiba. E quem não souber, que um dia entenda.
"Sonhei que estava no metrô.
Eram quase quatro da tarde e a multidão de botafogo ainda não havia saído de suas tocas proletárias. Dava pra sentir o cheiro do ventilador e o som dos trilhos em silêncio reticente. Apesar de não sonhar muito, esse sonho não era diferente dos outros, com seus flashes descontínuos e a ausência de noção de espaço e tempo (só sabia que eram quase quatro horas pois vi em um relógio de pulso).
Sabia que não queria embarcar, mas não sabia o por quê dessa vontade.
O metrô chega, as portas não se abrem. Mesmo assim, centenas de homens de terno e gravata, e de mulheres de camisa branca e calça preta, centenas, todos, juntos e iguais em movimentos e tudo o mais, todos começam a sair dos vagões. Agora estou da ponta do metrô e me vejo a mim mesmo, parado, olhando as pessoas passando e penso/sinto em pensamento: "Anda! Entra!"
"Volto" a mim, de frente para o vagão, e surpreendentemente olho para os lados e não me vejo me olhando de nenhuma das pontas do metrô. Esqueço isso, e entro no vagão. Sinto medo.
As luzes lá dentro estavam todas apagadas e eu nem havia notado isso lá de fora. Entrei por pressão, por insistência e por sei lá mais o quê. Talvez por ignorância. Talvez por necessidade de ignorância. Enfim, lá era escuro e, apesar de gostar de não ver nada, ali era diferente. No escuro brilhavam luzes, luzes que era imagens e imagens que eram lembranças. As lembranças eram tudo, e tudo era tudo o que eu não queria rever no escuro. Senti um medo maior ainda dentro de mim, e digo que era medo porque era frio que sentia, e frio não é nada agradável dentro da gente. Vi aquelas memórias infantis, aquelas não tão infantis, e comecei a questionar o como daquilo tudo. Foi então que notei uma capacidade.
Duas, aliás: a capacidade de perceber e questionar, o que era uma forma de controle, e a capacidade de tê-la ela própria dentro de um sonho. Aquilo foi um choque, e o metrô continuava a andar debaixo da terra no mais completo escuro. E as lembranças não paravam de piscar. Eu estava sentado e ao mesmo tempo estava de pê, coisa louca que são os sonhos. Estava olhando para direita e estava olhando para a esquerda, como se no escuro fosse capaz disso acontecer. Comecei a ver coisas horríveis, me abracei pelas pernas, caí no chão e pedi por socorro, o que foi estranho, porque não me reconheci fazendo aquilo. Como se fizesse sem ser eu mesmo.
Pedindo socorro, o vagão parecia ficar maior ainda. Comecei a dizer coisas, e como que se por reflexo de cada palavra dita, o espaço ia ser tornando cada vez maior. Eu sentia a expansão do vazio externo. O chão ficava mais fino, meus dedos sentiam isso, e esticavam do mesmo jeito quando se estica plástico barato, até que tudo pareceu esticado demais para se aguentar, e a bolha estourou.
Um grande embolorado de imagens, sons, gostos, cheiros, todas as sensações, misturadas e acontecendo juntas. Não de forma caótica, mas de forma ordenada e imperceptível, como se mil anos fossem vividos em um milésimo, e isso fosse normal. Então era no cosmos que eu me encontrava. O mais primordial universo estava ali e aqui, e eu me senti no vazio do espaço. Uma sensação tão real, mesmo que nunca vivida. Distingui algumas constelações e pude ver Trífide e Ômega claramente.
Mas meu Deus, que droga! Eu sentia novamente um medo ao ver aquilo tudo. Reconhecia significados abstratos em todas coisas e comecei a ficar desesperado. Era tudo lindo demais, e só eu estava ali. Sabia que não existiam outras pessoas, que aquele era um universo unique a mim. Fiquei com raiva da solidão, mas não quis ninguém perto de mim. Só porque podia e porque estava com raiva, questionei desde a beleza até a perfeição de tudo. E novamente, a cada palavra de raiva, o universo virava onda gigantesca e me engolia. Acho que nunca serei capaz de expressar ou mesmo de entender como a mente conseguiu tornar tão perfeita a noção de espaço de um universo te engolindo. Eu realmente senti como se o universo estivesse me engolindo. E eu era engolido por um universo. E, nossa, eu sabia exatamente tudo o que estava acontecendo.
Felizmente, caí da cama e acordei com a mão torta e machucada. Caí feio, e chorei. Chorei não pela dor, ela foi só um gatilho. Chorei por ter me visto no metrô, chorei por não ter me encontrado quando me procurei. Chorei por ter ficado sozinho e cego, e por ter visto tudo o que não queria ver sozinho. Chorei porque o vagão explodiu no vazio e porque era tudo muito perfeito e solitário. Chorei porque havia sentido O Terror de ser engolido pelo universo. Chorei porque, mesmo acordado, senti o mesmo frio que sentira no sonho, e fiquei com medo de ainda estar adormecido."
Que sonho... que experiência..
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