1 de setembro de 2009

Everything will be alright

O Sol, ele havia sumido! O céu era escuro e frio, mas era dia, e dia é quente! Tem de ser quente, oras! é dia meu Deus!
 
Compre um maço de cigarros, e olhe pros dois lados antes de atravessar. Ele sabe o perigo de atravessar sem olhar pros lados, e isso o faz mover os olhos da direita, para a esquerda, para o meio. A frente.
 
Pé ante pé, um depois do outro, tudo normal. Mas ele sente a dor, e ele sabe que o que vem por ai não será bom. Portões pretos, engradeados, o saúdam e lhe dizem: " - Bom dia jovem, pode entrar-nos." Ele entra. Já ignora magistralmente a saudação inócua.
 
Seu corpo está cansado, sua mente, vazia. Ele não vê nada, mas não esbarra nas coisas. Nas pessoas. Ele cumprimenta com o coração, não vendo rostos ou cores, ou credos, ou hierarquias. Ele simplesmente reconhece aqueles que lhe são familiares. E os saúda.
 
O medo o havia provocado mais um atraso. Um medo incomum, que não dói, que não faz voltar atrás. Um medo da coragem, um medo da vontade certa e controversa, um medo da mudança; ele havia tomado uma grande decisão.
 
As coisas iriam mudar, mas de dentro para fora. Ele sabia o quão doloroso todo o processo poderia ser, sabia que certamente iria ser doloroso e, que seria tão doloroso quanto imaginara."Mas tudo bem", ele diz-se, "você tem ainda muitos anos de vida, não serão esses que vão te derrubar. Você ama, não deve temer. Faça isso por você, e por eles. Morra-se, e viva."
Pé ante pé. Um depois do outro.
O subir de escadas nunca antes pareceu com a ascenção de um ser ao divino. Ele estava em missão de paz, em missão de ordem e paz. Seria certamente recebido com pedras e paus.
 
Sua convicção o guiou por entre cadeiras e mesas. Fora o primeiro a subir, o primeiro a adentrar a sala e mover-se por ela. Todos, os outros, calados e sentados. Poucos dos muitos o olharam; muitos desses poucos o viram. Como sempre fora.
 
O Guardião da Tristeza guardava toda a tristeza do mundo, em seu posto, solitário e sonolento, o sono dos decaídos. Ao lado da porta de entrada ele sempre fica, como se esperasse algo, ou alguém. Não lhe devo nada, e nada lhe pago. Sigo, e acomodo-me.
 
Outro guardião me enobrece a presença. Guardião diferente esse; Guardião da Sentimentalidade, ele o é. Suas palavras comovem, seus dizeres envolvem, seus toques acalmam e seu olhares avivam. Mas ele quer ser morto!, e morto vive, e vive morrendo esperando nascer de novo. Ou simplesmente não tendo mais que nascer.
 
Eu os amo. Os dois. Um amor que pede distância e compreensão. Só aceito pagar um dos preços, e acabo pagando um dos preços mais altos por essa ganância: perder um dos Guardiões. É claro, existem outros por aí, existem outros melhores, talvez, existem outros que me façam um bem maior, talvez. Mas é disso que eu sei, que é deles que eu sinto saudade, não falta. Nunca senti falta, mas digo sentir para dizer algo e não parecer-lhes de todo vazio. Em vão.
E por tudo isso, e por todos os outros motivos e desmotivos, que eu me distancio. Me apresento aos meus superiores e lhes digo "Aqui estou, e lá estão eles. Quero protegê-los, e vou vigia-los daqui. Que minha visão seja tão apurada quanto a do falcão celestial, e que meu coração não me deixe morrer de amor. Eu amo, e sei o quanto isso é impossível. Amar é impossível. E vou amá-los na impossibilidade de tê-los por perto, em todas as circunstâncias e significados."
 
Um olhar simbólico ele se deu, e selou seu juramento às lágrimas.
Ele precisava deixar de viver aquela aventura, para poder ser algém de verdade, para alguém de verdade. Seja quando for. Para quem for, ou quems forem.





 
João Victor não exagera por exagerar, não fantasia por fantasias: é sincero, só por enaltecer o que é.

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