27 de setembro de 2010

Convença-me

"(...) -Você não pode solta-la ainda. Não, não é prudente. Sua alma tem de permanecer alocada onde nenhuma outra quer permanecer, e onde nenhuma outra jamais quis permanecer.
Deve ainda se lembrar que não há Liberdade verdadeira, somente a causa única da prisão. Saber o que te prende, talvez seja a chave mais verdadeira da qual você se aproximará em toda a sua vida. Não esqueça que ainda é tempo de perder o controle sobre as coisas e se deixar morrer completamente para a realidade do mundo. Ainda está viável, essa caverna fecunda e promíscua, escura e profunda, onde muitos entram somente até a porta sem jamais olhar para o fundo dela. Não se deixe esquecer que, até onde outros foram, você também pode ir.
Sua alma? Você precisa dela para alguma coisa? Em algum momento, você se permitiu que ela falasse por você sem, em troca, ganhar uma perda? Você, alguma vez, achou mesmo que valia a pena libertá-la e deixá-la respirar um pouco a realidade, sem ser, logo em seguida, asfixiado quase que mortalmente por mãos invisíveis, ou esmagado por pedras imensas? Será que vale a pena morrer pela sua alma? Acreditamos que você saiba a resposta, meu jovem. E essa resposta pode ser a chave de sua libertação deste mundo. (...)"

Birds of Paradise, Livro II, cap. Diálogos da Razão.


Porque um dia ruim pede um texto desgostoso.
Permanentemente danificado, eternamente consertando.

23 de setembro de 2010

Must have more


Melhor do que descobrir, é redescobrir. Acho que sinto o peso de mil moedas de ouro dentro do bolso quando me surpreendo com algo comum, natural; com algo humano. Não, moedas não: corações. Mil corações batendo forte e dizendo que ainda estão vivos por ai, não necessariamente dentro do meu bolso. Seus batimentos são tão mais fortemente sentidos quando estão fora, que não se faz precisa a captura deles.

É um período turbulento, esse. Muitas coisas acontecendo, pessoas entrando e saindo das vidas todas... e você fica perdido, sem saber o que achar, o que dizer, o que sentir. Constrói-se aquela maldita e inevitável barreira de sentimentos e de pensamentos, que te levam, de um jeito ou de outro, àquele mundo vazio e bizarro do cotidiano lotado e atarefado, onde cada respiração mal feita torna-se um gasto, uma perda que te desvaloriza. Não satisfeito, você perde também a única chave que abre os portões do caminho de volta: a razão. Passa a fazer uso esporádico de matérias que te desprendem de sua psiké, com a intenção dupla de entender outras pessoas, e de se desentender consigo mesmo.

Aí então você tem uma breve conversa, onde alguém que está muito mais lúcido do que você lhe recobre a alma com palavras limpas e serenas, batendo de frente com a sua incontrolável raiva e seus argumentos racionalmente válidos. Foi o poder da melodia destronando o poder do raciocínio lógico. Torna-se ridiculamente grande a capacidade da vida em se mostrar como que em certos pontos se liga e se transformando em uma igualmente grande teia de Vida.

Enfim, pra terminar, vou repetir as palavras que um amigo disse ao reencontrá-lo depois de tanto tempo:
"Oi, eu fui, mas pra voltar, lembra?".