Escrevo algumas coisas de hoje, para que uma memória enfraquecida pelo tempo repentino e enfadonho de amanhã não me faça esquecê-las jamais. Assim, conseguimos todos manter vivas aquelas cores, mulheres, brigas, balas; aqueles problemas, sons, livros, amigos, textos; tudo para não esquecer. Porque somos humanos, e por mais bonito e verdadeiro que se tenha dito que "é ridículo admitir a necessidade de algo para poder lembrar-se", é triste e falso. Quem não esquece que deixe de ser mesquinho e tente ser menos perfeitinho.
Hoje, escrevemos sobre coisas que ninguém nunca escreveu. Na verdade, filosoficamente, ninguém nunca escreve algo igual ao de outro alguém. Aquele conto do rio que nunca é igual? Então, isso mesmo: nunca o mesmo. Nem o texto, nem o autor, ou os contextos.
E por falar em autores, antes de pensar que você escreve algo nessa folha, lembre-se de quem escreveu em você primeiro. Dê valor ao seu livro pessoal. Auto ajuda? Não! Por favor, né! O importante é não esquecer, e a melhor forma de não esquecer é incentivando a lembrar com gosto na boca. Hum, gosto na boca de morangos quando lembro de Mountauk. Gosto de vinho quando penso nela, mesmo que não tenhamos bebido vinho juntos, ainda. Gosto de música ruim quando lembro da Lapa.
Mas cuidado, não provoque sinestesias além do necessário: saiba dividir memórias de ilusões, de sonhos, de esperanças. Se você pegou um ônibus cheio, lembre-se dele como lotado, e não como meio cheio, ou quase agradável. Não. Seja digno das suas memórias e admita-as com a certeza cruel da realidade sua, somente sua. Não se permita furtar de si próprio a capacidade de machucar-se ou curar-se sozinho com lembranças; tente abraçar por memórias e veja como dói; cante uma música que marcou um momento, e veja como continua lindo; lembre-se.
Lembre-se sempre.
Esqueça jamais.
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