
Ele analisa bem o movimento das pernas. O escolher mal definido das pisadas dos pés. O balançar desesperadamente calmo dos braços alheios e, aquele olhar que nada lhe dizia.
Mãos ao queixo, ei-lo segurando seus pensamentos: o mito de Atlas se renova. Cada fio de cabelo de sua quase-barba o marcam a mão, e ele sua. Suas mãos suam e seus pés ficam frios. Ele acabara de abraçá-lo. Seu corpo havia sido acometido de uma invasão espacial, sim. Seu corpo fora abraçado pelo nada, sim. Lastimável sensação de fome, logo de manhã cedo, e ele percebe que tal fome não é dele.
Sua mente revigorada analisa cuidadosamente e, de modo discretíssimo, o desenvolver estagnático dos indivíduos que o cercam. Suas pálpebras pesam mais do que o normal, e ele consta que havia realmente voltado à sua cidade "Maravilhosa". E ao seu colégio "Maravilhoso".
O figurino dele? Ele não vestia figurinos, e tão pouco ainda vestiria idéias. Ele vestia o amor em toda e qualquer camisa, calça, jeans ou meias. Ele era amor, ele seria amor, ele vestia e viveria no amor. Mas pobre dele! Um iceberg foi onde lhe jogaram! E sua mão começa a cansar, passando a usar ambas.
Olhar fixo ao nada, com movimentos aleatórios desviando do nada intenso. Ele estava atrás de alguém de quem não gostaria de permanecer nem muito perto, nem mesmo muito distante. Gostaria que simplesmente não existisse, essa coisa monga. Mas dá graças ao fim próximo das aulas.
Observa o gordo ser, de postura homoerótica absurdamente desnecessária proferir palavras e gotejos de saliva enquanto a turma o espera, não muito anciosa, mas não menos desatenciosa: "todo mundo curte uma fofoca". Não todo mundo. Ele pede a Deus uma distração e, Deus muito bondosamente lhe joga no colo uma oportunidade: ir lá fora.
O 'lá fora' nunca lhe fora tão atraente. Seria a primeira vez ali, que poderia não somente escapar do buraco negro como ir além, e entrar em um bar.
Tentador. Ele não resistiu á tentação.
Mas tudo lhe passa como vento, e nota logo que já estava de volta. Era o cansaço limitando sua vida. Senta-se e adota uma postura dedicada e inicia seus trabalhos.
O cansaço consome suas vontades, tornando-o não muito diferente de um ser em estado hibernatório; cabeça abaixada, desânimo total, presentimento de frustação grande e uma certeza ainda maior na sua frente. Ele se cala, ele reza em silêncio, uma reza que não diz nomes ou pede à fortes, uma reza dele com ele, para ele e por ele. Só ele pode fazer algo, e viver algo, e sentir algo de fato, ali, agora. Se fosse ajudado, sendo como fosse, seria porque ele haveria de ter tomado um passo inicial. Então abre o selo da voz interior, e passa a transmitir parte dos seus pensamentos incomuns para o mundo atravéz do ato de falar.
O mundo para, ou ele parou para o mundo, não o sabe. Mas que algo parou e lhe deu atenção, isso ocorreu. Sua voz foi ouvida por ele mesmo, e suas palavras foram entendidas por ele mesmo, sensações essas a muito resguardadas da realidade. A sensação de frustação logo se marca presente, com o silêncio alheio.
Ele, não pode fazer nada; o outro, muito menos. Só resta se aturarem e fingir que tudo está bem e bom.
O calor lhe consome ao ouvir uma descritiva palavra, uma emotiva e invocativa palavra, para ele, tornando toda a sua natureza e seu estado imaculados por dias algo vulnerável. Ele sente falta do seu poder, mas não se arrepende de ter aberto mão dele. O medo de que sua mente se torne o centro dos pensamentos de outrem o faz arrepiar a perna esquerda, deixando a direita logo em seguida ser alvo de uma pontada na coxa. Se ele soubesse ler o corpo, ele saberia mais do que já sente não sabendo.
Bem, ele havia tentado um começo. Havia feito a sua parte, na parte em que começaria a fazê-la de fato. Tudo o que ouve ao final de longas ditas, é um breve, acanhado e de olhar desviado "relaxa".
O sono está me matando, e isso é uma merda. Eu quero dormir, mas não quero deixar de marcar no blog uma marca daqui. Espero continuar amanhã, com o que o amanhã me reserva.
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