13 de setembro de 2009

Desenvoltura

Somos donos dos nossos atos
Mas não somos donos de nossos sentimentos;

Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;

Podemos prometer atos,
não podemos prometer sentimentos...

[Rubem Alves]



























O que o poeta quer dizer

no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.

Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,

seu clarão seu perfume?

Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?

A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes

só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa

de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,

um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos

No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

[Ferreira Gular]


Ah, pelo menos a prova da UERJ me trouxe mais um texto espetacular.
Acredito que esses dois, juntos, expressam melhor o que eu devo estar sentindo agora.



1-Eu não sei o quê; também não preciso de saber.

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