28 de setembro de 2009

Exercício da Vivência.


É um exercício complexo esse de convivência. É algo que requer maturidade, que pede a sua mais profunda capacidade de aprendizado e, atenção. Muita atenção para não trocar as bolas.

Toda essa preocupação, vez por outra, ou passa extremamente despercebida, ou absolutamente descontrolada, tomando controle até de nós mesmos. Isso só poderia ser entendido como um medo do desconhecido, como uma perturbação do além-mundo, essa coisa de conviver. "Con-vi-ver", viver com, mas não somente com. Também entre, por, via, sobre, sob. Viver, entrelaçar-se, desprender-se do apego minimalista para apegar-se ao todo. Esquecer a diferença e dedicar-se, de corpo, alma e tinta, ao ato de convivência.

(Reparem, estas serão as grandes tendências motrizes das postagens daqui em diante: Relações, Eu's, Amor e Ciências).

Requer de muitos um esforço equânime ao de Atlas, carregando o nosso mundo às costas. Interessante, ele carrega todo o mundo nas costas... e ainda existem pessoas que acreditam carregar fardos imensos. Eu mesmo acreditava nisso. Hoje, prefiro encarar meus pesos como oportunidades, meios, modos de melhorar. Caminhos novos para entendimentos novos, conhecimentos novos de coisas, pessoas, mundos inteiros e inteiramente novos.


Mas, como nem tudo são rosas e espinhos, existem ainda as lagartas.


O desvio da intenção correta daquilo que é natural em nós é um acontecimento influenciado, basicamente, pelas impressões externas e as diretrizes alheias a nós próprios. Ou, como mamãe diz: Más influências. Amizades mesmo. Colegas, coleguinhas, conhecidos. Existe toda a certeza de que cada uma dessas pessoas que passam por nossas vidas todos os dias sejam também parte de nós mesmos. Desde o mais ínfimo pedaço de nossos Eu's, até a mais profunda característica pulsante e vigente.

Entretanto, como que por mágica, muitas vezes essas pulsantes características, simplesmente deixam de ser vigentes e, certamente, muitos perdem um pouco da noção de si próprios.
Isso é preocupante. Não existe armadilha maior para um ser ainda em estágio de formação do caráter, do que um longo e complicado período de desperdícios e erros, seguido de erros, seguido de erros e seguido de erros. Pois bem, essa é exatamente a hora em que temos a possibilidade de nos soldarmos mais em nós mesmos. De sermos o que viemos para ser e, galgar lugar dentro de nossas vidas. A escolha certa passa a ser todas elas, todas, todas as que são tomadas durante o dia a dia.

Não quais decisões toma, mas simplesmente como as decide. Não importa aqui o resultado, mas o caminho percorrido até ele. Sim, é um exercício que requer maturidade essa coisa outra de aprender e crescer. São duas coisas que coexistem e que nos formam: Convivência e Aprendizado.
Sem ambos, seria no mínimo complicada a existência da raça humana aos bilhões. Poderíamos ainda hoje ser um grupo de macacos. Ou então seres que tentam se isolar uns dos outros. De um modo ou de outro, estaríamos fadados ao fim, à extinção.


Mas, será que já não estamos fadados à isso? Acredito que não.
A cada dia que passa e, bem, para cada um de nós pode-se contabilizar um número maior de acontecimentos que podem mesmo nos fazer acreditar que, cedo ou tarde (mais cedo do que tarde), seremos eliminados por nossos erros. Mas não, não creio que seja uma questão de erro e correção. É algo mais do que isso. É uma questão de erro, aprendizado e evolução, sem a parte da "correção".

Nós não podemos fugir daquilo que nos amedronta
- F. Dostoiévski

Pois bem, que encaremos nossos problemas e as situações em que nos colocamos, ao invéz de passarmos boa parte de nossas vidas que, de modo recompensador ou não, é 1/3 perdida dormindo. Uns, aceitam isso como um merecido descanso. Outros, como eu, encaram essa perda de tempo como uma simples perda de tempo. De uma maneira ou de outra, vivam. Mas, acima de tudo, pensem, mesmo que seja antes de dormir e não pensar em mais nada.





Não esqueçam de beijar as mães de vocês ao acordar. Os pais também, claro.

27 de setembro de 2009

A Crise de Percepção. - ou - A Música das Esferas.


Ando vivendo momentos de reflexão. Uma reflexão grande e não necessariamente auto-crítica. Ando revendo (e vendo) desde os porquês que me direcionam a seguir um determinado caminho que me liga de um lugar ao outro, até o mais pessoal e profundo "porquê dos quais e poréns". Também não é uma questão de necessidade, muito menos de insegurança. Pelo contrário, a reflexão em si, no meu caso, sempre foi uma ferramenta que me ajuda a embasar mais e mais minhas próprias perspectivas do espaço à volta.

Algumas das vezes essa ferramenta me permite constatar que, aquilo que me era tido como 'X', na verdade é um 'Y'. Ou que simplesmente não existe matemática para aquela. Compreendi também que hoje o principal motor da problemática humana não é uma falta de possibilidades, ou um despreparo inerente de nossa raça para lidar com os problemas mundiais, políticos e econômicos, regionais ou pessoais; é uma simples e, ao mesmo tempo, complexa crise de percepção.

Quero antes de tudo avisar que, por mais que um texto possa a vir a ser resumido ou expresso em uma única linha de pensamentos ou um único grupo de conjugados pensamentos analíticos, palavras são sempre mais do que palavras. Logo, um texto pode ser aplicado em todas e quaisquer circunstâncias de nossas vidas, em nossos cotidianos, em nossos particulares e no nosso público viver, passando do respirar até o grande assunto das bocas, o Amor. Esses dois pontos, aliás, explicitam dois extremos que curiosamente se chocam diariamente nos nossos pensares e nos escritos dos mais bem conceituados poetas e escritores.

Hoje, a noção crítica e pessoal deu lugar ao senso comum. Não no vinhés conhecido por nós, alunos de ensino médio e pré-vestibulandos, mas sim na questão do literal senso comum. O grupo, o Todo, pensa de um modo individualizadamente grupal, como se cada tomada de atitude ou cada não-tomada da mesma fosse em prol de um Todo. É uma complicada mistificação do 'amor ao próximo' e um total descaso com o 'à ti mesmo'.
Poderia ser atribuída essa tal crise como sendo resultado de uma vontade superior, no sentido humano, ao Poder. O Poder, nas mãos de uns poucos, torna toda uma humanidade, a nossa raça, subjulgada por um grupo minoritário e detentor das mais variadas formas de regulação social, política, econômica, pessoal... e por aí vai.

Mas não. É uma questão pessoal. É um "quê" tão intimamente intrínseco, que passa despercebido. Continua a passar despercebido, por sinal. Eu mesmo não sei o que seria esse "quê" elucidante e libertador.

Acho que a melhor forma de explicar essa tal intrínseca solução, esse "quê", seria relacionando-o com a Física e com a Química, matérias que venho estudando vestibulosamente.
A muito tempo atrás, e eu não vou me preocupar nem um bocado em medir temporadas, nosso tão querido e amado Newton propôs, atravéz de inúmeros e perfeitos cálculos, as mais variadas formas e interpretar os fenômenos da natureza. Essas elucidações por sí só, transformaram toda a mente humana da época, e além dela, como ainda hoje em dia podemos observar. O problema ao qual vou me ater, porque existe mais de um problema na temática newtoniana de ver o mundo, é que tais fenômenos são estudados e explicados em isolado, em seperação de um todo.

Alguns devem lembrar, lá das aulas de Química, quando se foram vistos os primeiros modelos atômicos propostos. Logo, aprendemos o modelo atual de idealização de um átomo, a matéria principal e constituínte de todas as outras formas. Na época de sua descoberta, houve por parte dos cientistas toda uma perturbação ao descobrir que, ao redor de um átomo, rodeavam-lhe outras partículas menores, os elétrons. Porém, o grande choque de realidade foi recebido quando notou-se que o que havia entre um elétron e o núcleo de um átomo, eram grandes espaços vazios. Não somente as grandes distâncias entre o centro e os elétrons assustavam os cientistas, como também a noção de que, por exemplo, se um átomo é do tamanho do Rio de Janeiro, o estado, o núcleo seria do tamanho do campo do estádio do Maracanã, e que a distância entre um elétron e o núcleo de um átomo é tão proporcional quanto a distância do Sol à Terra.
Sim, é uma escala realmente perturbadora e chocante.

Mais chocante ainda foi entender que, para se medir um elétron, você só poderia fazê-lo em um determinado momento. No exato instante seguinte, aquele mesmo elétron já não mais estaria no mesmo lugar, assim como já não seria mais a mesma partícula.

"Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio" - Heráclito

Para entender melhor, é como se um elétron não existisse. Ele existe no momento em que precisa existir. Ele passa a existir quando precisa coexistir com outro elétron. Essa talvez seja a melhor forma de se explicar essa idéia, um tanto quanto confusa.

A matéria como nós a entendemos hoje, é constituída pelo princípio da solidez. Matéria sólida essa, com enormes espaços vazios entre um átomo e outro, entre um elétron e seu núcleo. Então, como nós não atravessamos paredes, ou caímos por entre chãos e chãos de matéria?

A resposta está na tendência. A tendência de que cada elétron, sendo infinitamente pequeno e que exista em constante movimento tenha de se associar à outro elétron. É uma relação, uma ligação, um contato, uma troca, uma coexistência.

Assim como na Ciência, as soluções não existem de fato. Elas seriam intrínsecas, seriam naturalmente parte de nossa existência, tornando-se reais ao passo de que as necessitamos. É o problema da falta de percepção dessa necessidade que nos torna cada vez mais distantes uns dos outros, feito elétrons e seus núcleos. Cabe a cada um de nós pensar, utilizando desta ferramenta unicamenta capaz, o cérebro, em como criar nossas soluções. Em como criar nossas relações, nossas ligações e vidas.


"Um homem pode viver sozinho, mas um Sozinho jamais será um Homem."



1- João Victor melhorando suas afinidades filosóficas com as científicas.

25 de setembro de 2009

O apartamento, as 23:57, Maroon5

A música que toca faz com que eu dance e
ela olha nos meus olhos que cintilam
e sente o cheiro do meu corpo
minhas asas
minhas garras

Envolvida no torpor mal sabe ela
que quem se envolve sou
eu, que me aproveito de minha
fraqueza momentânea, e
faço pose de malvado

Ameaço destruir seu quarto se ela
não abrir as pernas pra mim naquele
instante.
Ela ri.
Ela ri, pois sabe que o que tenho nas mãos
não passa de um pau
grosso e grande.

Eu deveria tê-la ameaçado de
destruí-la com meu pênis. Mas ela
iria gostar disso.
Deveria então tê-la ameaçado de destruí-la
por dentro
com as minhas palavras.

Mas não surtiriam efeito algum
as minhas balas
fálicas
cruzando o vazio
que se expande por dentro
daquelas pernas arreganhadas.

Ela sempre esteve arreganhada para mim.



Não se assustem ; é só uma tchotchokazinha e uma rosa vermelha (:

21 de setembro de 2009

Do porque dos caminhos seguirem como seguem.

Eu juro; eu tentava deletar postagens antigas. Aquelas postagens, que mesmo eu tendo feito com certo esmero e determinado sentimento no dia, agora, nossa, até embrulham o estômago. É complicado apagar o passado, mesmo que de uma forma singularmente simbolista.

O dia está chuvoso e as coisas aconteceram durante o mesmo.

Um dia de chuva, como o de hoje, é suficiente para encher muitos rios. Rios grandões. Muitos rios mesmo. Daria para acabar com a sede de muitas pessoas do Nordeste, irrigar plantações, limpar roupas de festa e deixar as pistas da Serra das Araras realmente perigosas. Mas, não foi nem mesmo a chuva que impediu as coisas de acontecerem hoje. Não hoje, ou ontem, ou antes de ontem. Amanhã? Menos ainda.

Assim como o cinza, acredito que a chuva seja um marco de passagens. Passagens essas boas ou más. Hoje, num dia de chuva, num dia que teria tudo para ser tristemente cinza e molhado, o dia foi-se mostrando maior do que a possibilidade negra: foi coloridamente cinza e molhado.

Ah, chuva que bate nas faces e faz o vento frio ser algo confortável. Nem mesmo as dificuldades ou as póstumas resfriações, fungadas e escorridinhas incomodam. Elas lembram, aliás, que tudo correu bem. É a magia do bem se manifestando em coisas não boas.

Mas, já ia me furtando de mim mesmo meus ideias que havia pretendido aqui explanar. Pretendi isso tudo, que ainda não sei se vai sair por completo, no caminho para casa dentro de um ônibus abafado e quente. Junto, eu passava pela corrosiva situação de me encontrar dentro de uma caixa de metal lacrada, onde pessoas, todas juntas e sem pudor, respiravam e liberavam o que havia dentro delas. Literalmente, eu respirei o mesmo ar que eles, e, de um modo biologicamente dito, fiquei incomodado e quase nervoso. Deve ser fobia, ou frescura.

A parte mais apetitosa foi ter visto uma digna senhora, ao meu lado, removendo o embaçado do vidro sujo com o indicador da mão esquerda. Fiquei olhando de rabo de olho aquela situação e, ao fim, ela havia limpado o vidro e via tudo lá fora. Mas, como limpar o dedo, agora mais sujo do que o vidro?

Esfregando na calça.

Repulsa!, repulsa!, ojeriza!, asco!, mais repulsa e mais asco!

Bem, ai tomei noção de que a chuva lá fora e o calor dentro de ônibus tinham uma relação direta.
Percebi também que o desejo da senhora de limpar o vidro sujo com o dedo, para poder 'ver melhor' o mundo lá fora, tinha relação direta com a chuva, e que minha repulsa, meu asco e minha ojeriza, todos tinham uma relação, indireta, com a chuva.

A chuva limpa, mas é fria. Quem não está acostumado com essa sensação de frio, simplesmente negasse a sentí-lo, e afoga-se dentro de um calor infernal. Também quem não gosta do frio que vem com a chuva, não gosta de molhar-se. Logo, mais um motivo para lacrar-se e tornar uno o calor e o abafado.

É por essa postura, principalmente, de querer negar-se ao prazer de viver algo diferente do comum que muitas pessoas se colocam em situações torturosas.

Mas, para fecharmo-nos dentro de nossos mundos, dentro de nossas caixas de metal quentes e abafadas, perdemos o tato com o mundo. O mundo lá fora. O mesmo mundo do qual fazíamos parte. Então, para não sentir-se longe de tudo o que nos faz viver, damos uma sujada em nossas mãos e fazemos coisas indignas. Coisas podres, coisas realmente feias, com o intuito mero e simples de acreditar mesmo que se faz parte do mundo, mesmo que só vendo-o por uma janela desembaçada (e gotejada pelo lado de fora).

Não embarque nessa de se fechar. Não vale a pena.

Enfim, é por isso que não gosto de voltar para casa em dia de chuva, de ônibus. Espero ter explicado bem o ponto.




Postzinho misturado, hein, João Victor?

18 de setembro de 2009

A Insustentável Leveza do Ser

Vim pisar e chutar nessa merda maldita, que o mundo e seus habitantes cismam em chamar de MORAL.
Moral, malévola e preconceituosa Moral.
Moral avessa. Moral imoral, só por si em si, por si só.
Idolatria diária, o exercício da nefasta função de opressora da liberdade.
Moral divergente, divisor de mentes, anaquilador de amores, insetiscida de simpáticos.
Corruptora de menores, destruidora de lares, Mal do Século.

Moral

Potente pomposa poderosa.
Pavíl curto da sociedade. Intolerante admissora de diferenças; hipócrita, falsa, berço dos bebedores de sangue.
Moral moralista. Moral vanguardista, daquelas que nunca se viu, mas que sempre dever-se-ia seguir. Acompanhar, não entender.

Moral comunal: Utopia. Utopia do reverso, do progresso possitivista 'que não rendeu na Europa'.
Coisa de brasileiro. Coisa de quem gosta de dar um jeitinho todo especial nas coisas. É moral dar um jeito, é um jeito bem moral ajeitar as coisas desajustadas, desajustadamente.

O conteúdo, a ideia implícita da mesma em algumas das mentes pulsantemente pensantes, logo nos leva à uma encruzilhada: Moral, Ética, Direitos e Deveres? Quando, onde e como distinguí-los hoje, onde tudo é tudo, e nada é mais só o nada? Perde-se o poder de individualização, de singularidade significativa; dá-se margem aos multi-textos, ao vários pontos de vista das vistas tortas e cansadas.

O Mundo, os Homens, ninguém mais sabe dizer o que é Moral. O que é a Moral.
Aliás, todos sabem. Logo, ninguém realmente sabe.
Quando todos dizem o mesmo, é porque algo está complicadamente errado...

A Moral é, sempre foi, sempre será e nunca deixou de ser menos do que ridícula. Mais uma das regras, mascarada como conjunto delas.

Ai, imoral disposição de despir um conceito...


João Victor tem uma honorária professora de Filosofia e Sociologia. Porém, a coitada teve de ensinar Moral hoje na aula...

17 de setembro de 2009

Se foi para rir, parabéns; rimos. Se foi para ferir, parabéns; você está morto.


Ah, como eu poderia; poderia escrever em especial, direcionar as minhas palavras e de um modo bem subversivo, peverter toda a inanidez da previsibilidade humana. Tornar tátil algo insignificante e humorístico, como só a ausência de realidade em outrem poderia causar.

Vá saber por onde essa tua tão aclamada e profana noção anda. Talvez esteja mesmo aí, contigo; no fundo do poço. Cá eu fico, com minhas 'putrefatas e indignas' coroas. Coroas, e não coroa. São muitas.

São muitas, são belas, são formosas. E, por sinal, todas me agradam. Não pratico mais a ação injurioza que só os fracos praticam: julgar.
Larguei mão, oras! Galgado espaço, havia eu, em lugar que não me era: do teu lado, no fundo do teu poço, do lado da tua noção putrefata e indigna da realidade.

Suas palavras têm dificuldades gloriosas para andar.
Mal sabem fazê-lo ainda... como poderiam, ao menos, me avistar no horizonte onde nasce um novo Sol a cada dia? Um Sol belo e formoso, que por sinal, me agrada muito.

E o Sol aí do fundo? Tens esse 'privilégio'? Conheces o calor, o prazer e a vivacidade? E a tua amiga, essa nova, que clamas tanto como inatingível e divinamente superior? Ela conhece as felicidades da vida, ou mima-te com poemas mal traçados e pequenos?

Meu Sol não tem tamanho. Ele mal cabe em meu céu; suas luzes parecem queimar toda a água dos meus mares.

Vivo no amor, amor puro e sem julgamentos. Um amor consciente e vivo. Pois só os vivos, vivem.


Espero que até aqui tenhas tido a capacidade suplantar de admirar o que um Homem ao Sol pode fazer, sem fazer nada. Só na idéia, só na palavra. Só na brincadeira.
Palavras não são nada perto da vida. Pergunte a quem escreve de verdade e sem muletas: Eles te dirão que sim.

Também te dirão que é arrogância demasiadamente ridícula escrever ao invéz de dizer. Se não sabes, palavras ditas são mais fortes que palavras escritas numa máquina, além de poderem lhe conquistar, mesmo que à falsos méritos, um status de 'corajoso' (pois coragem que, para uns, é
fazer, para outros, ainda é o falar). É, talvez seja mesmo melhor não dizeres nada: não estás mesmo preparado para dar esse ínfimo passo, o de fingir ser algo bom.

Talvez, seja melhor continuar mutilando mais um, com suas unhas, suas garras. Continuar torturando mais um, em uma sinfonia de vazios e Eus, também vazios.
Tua amiga realidade não vai te acompanhar para sempre, meu caro. Nem mesmo esse torturado que te segue cegamente, desesperadamente. Um dia, ele não aguenta mais e se vai. Um dia, ele não te aguentará mais, vomitará, e irá partir também. Sabe-se lá para onde ou de onde. Mas nós sabemos o porquê.

Pergunte a todos que não te olham mais com olhos vivos. Pergunte a todos, aliás: não existe um que te olhe. Você é só mais um tentando, seja lá o que for e não conseguindo.


É até interessante observar as tentativas tuas ao tentar ser algo de bom. Logo, vários e incontáveis pontos se unem, formando assim a linha, a corda, a corda que te enforca sempre. Parece muito com a tua própria língua, essa ferina que te faz acreditar levianamente que decretas o enforcamento de alguém, ao proferir de vez em vez palavras torcidas e chorosas, fracas e perdidas. Ela te engana, meu caro, com maestria. Mas meus ouvidos se tornaram apurados, também, para mais essa ladainha.

Agora, eu, Rei do meu Reinado de Sol e Amor, corouo-te Rei também; Rei da Solidão e do Ódio.
Pode acreditar que afogar-se cada dia mais e mais em teu ódio não te fará melhor.


En fini
, não desejarei nada para você. Não é o que precisamos aquilo que desejamos. Talvez, e somente talvez, digo que você ainda venha a sofrer muito, até notar que fora enterrado dentro de uma cova funda e escura.

Só tenhas certeza disto: Não louvarão a tua vida com flores.



.
Agora, explicito aqui alguém, alguém que sempre me acompanhou e que sempre me acompanhará dentro de meu Caos, meu Perfeito Caos:


Soneto da revolta

Então você perdeu mais um amigo
Da sua pequena e insignificante coleção
Você perdeu um dos grandes
Não o maior, mas o mais valioso

Antes de dizer que controla todas as marionetes
Do seu Show de Horrores
Olhe para cima e veja:
Você não controla nada nem ninguém

Suas palavras não possuem valor
Seus poemas à A. de Azevedo não são,
Não são mesmo tão bons quanto você acha que são

Eu quero viver no caos
No caos perfeito dos sonetos
Que você nunca conseguirá fazer




1 - Pense antes o que vai-se publicar, e para quem principalmente: João Victor não é hipócrita e responde bem, muito bem.

2 - E trocadilhos com imagens no título, só quem pode, pode.

15 de setembro de 2009

Um pouco de frio e uma dose extrema de literatura de ótima qualidade, regrada por uma paz de espírito IN-CO-MUM.


"(...)E a vontade de retaliá-los, só com intuito de marcar presença, de dizer o que deve ser dito, de não se sentir por baixo, coibido.

Ah, o prazer do defenestrar; sublime sensação material de desfazer-se daquilo e disso. Poder fingir mudar o mundo, as pessoas, jogando tudo fora por uma janela. Mas sempre que se joga algo pela janela, há a chance de acertarmos alguém bem na cabeça. Isso dóóóói...

Eu só quero dormir, o sonho bom do sono indisolúvel, impenetrável. Imaculado sono de Madre. Será que madres tinham sonhos de paz? Será que as pessoas sonham com aquilo que já tem, ou só sonham com o que não tem ainda, e um dia virão a ter, ou não? Sabe-se lá, é tudo sonho. Ao contrário, sonhos não viram realidade. Isso é inquestionável, até porque ninguém sonhou com o sonho. Sonhos nos mostram o que podemos ser, mas não que seremos aquilo; nunca nos tornamos sonhos. Até porque somos de verdade, e sonhos não são reais. Não se tocam os sonhos.

Venho seguindo conselhos de grandes da literatura, mesmo que não lembre de seus nomes. Aliás, dificilmente me lembro dos nomes. Nunca me lembro dos nomes. Nunca me lembro do que dizem, só saio falando e não me importo muito com o "quem disse", "quem escreveu", "quem peidou" ... só escrevo. Assim como eles também só escrevem, muitos, e não se importam de não dizer quem os influenciou, mesmo eles tendo quase sempre tanta noção disso tudo quanto de que o Sol é assim e a Lua, assado.

Não é um clichê. Até porque clichê não é algo realmente clichê. Tudo é clichê, se formos pensar pelo ponto de vista da Física Moderna. Também não precisaríamos ir tão longe, ou comprar livros tão caros e complicados; é só dar uma olhadinha a volta.
Tudo anda clichê. As pessoas andam clichês, sempre dizendo, pensando e reclamando das mesmas coisas. As aves também, principalmente os pombos: Malditos pombos: quando se assustam, sempre voam prum lado oposto, ou traçam um rota de fuga muito esperta. Eles sempre sabem o que vamos fazer para tentar pegá-los.
Eles também sabem que somos clichês.

O clichê sabe que é clichê, e nem por isso me martiriza. Sabe que sem ele, nada teria graça:
Não haveria o novo, nem a mudança, nem o diferencial, nem o interessante. Tudo seria igualmente novo, mutável, diferenciado, interessante... porque sem a lei da Tese+Antítese (Anti-tese) = Síntese nos deixa tudo bem menos lúcido. Ah, eu não vou explicar, aqui vocês dão uma pausazinha e analisam o esquema:


(...)


Então, como eu dizia, (eu também parei para refletir e viajei) não vou dizer mais.
Chega um pouco de clichês. Clichês já estão enchendo o saco de tão repetitivos. Insistir na mesma coisa sempre causa cansaço, indiferença e repulsa.

Vamos para outra vertente de pensamento, onde eu não penso nada por não ter nada me ocupando a mente; vou falar de gente.
Sempre se fala de gente. Quando falam dos rios, as pessoas falam delas mesmas. O mesmo acontece com o céu. "Olhe, estrelas tão belas" e logo a beleza se transforma em algo humano. Como se cada medida e anti-medida fosse humana. Será que somos Sínteses do que nos rodeia?

Sempre acreditei que sim. Venho com essa bandeira nos braços e por sobre o meu peito desde quando me descobri ainda coberto. E é frio sair debaixo das cobertas, mas conseguimos ver tudo melhor, sentir tudo melhor.
É uma bandeira que não te protege do frio; ela não te protege, simplesmente isso. Proteção? Quem falou em ser protegido quando se segue um ideal? Afinal, quem defende quem, o escudo, ou o escudeiro?

O escudo protege o escudeiro e o escudeiro protege alguém aí, alguem deve pensar. Tá, mas...
Veio também aos olhos a imagem de um alguém conhecido? Pois então, você é o escudo dessa imagem. Aí, a imagem vira o escudeiro. E vira escudo de mais alguém. No final, é um jogo, uma guerra quase sem fim. Sem perceber nos apegamos às nossas ideologias como não somente escudos, mas espadas e lanças, pistolas e metralhadoras. As piores ideologias são aquelas que viram bombas atômicas...

BOOM!!! A explosão do ódio visceral humano. Tipicidades da nossa classe.

Acho melhor eu dobrar os dedos por aqui. Logo, ficarei sem palavras. Na verdade,(Duvido muito, por isso eu paro) eu gostaria de continuar. Mas deixo pra depois do fim do dia essa tarefa mortal de escrever. É aquela coisa:

Quem pouco fode, muito chupa;
quem pouco come, muito fuma;
quem pouco dorme, muito ronca;
quem muito escreve, *completem*"

Páginas 32, 33 e 1/2 da 34 do Birds of Paradise, projetinho mixuruca.




João Victor apelou à Clarice Lispector interior, aquela vadia literária que não para de falar até...

Not living, not going. I'm nothing; just bleeding.


Comece a exercitar os seus demônios interiores
depois de passar por tudo o que você passou
Você vai se perguntar
"pelo que eu passei?"

Sente-se ao seu lado, do seu lado interior
e veja-o chorando e pergunte
"Seguir o caminho errado te deixa mais forte?"
Você sempre acreditou sair mais forte

Afie seus dentes e suas mãos
seus sonhos são mais do que merecedores de tal
fanatismo
numa luta que nunca muda, que nunca acaba
Vá em frente, e me prove estar errado.

Quanto mais você seguir
menos você vai saber
Você nasceu pra perder
Mas você quer persistir

Como que por possessão você é tomado por
algo demoníaco
Não há malevolência em você, não
isso não pode ser verdade, amigo
Eles estão lhe matando e você
não os vê

Eles estão de dentro para fora,
perfurando os vazios e saturando
seu sangue.
O espelho rachou-se, a pintura queimou
e o lustre não brilha mais.

Você está sentado do lado do seu interior?





João Victor acredita que os que conhecem um pouco de Spawn tenham entendido um pouco a ideia.

14 de setembro de 2009

Da sala vazia, às cadeiras partidas.

A boca que sempre fala comigo
Nunca ouve das minhas mãos
Um cumprimentar agradável
Apenas um afável e educado
"olá".

Se por pena faço isso,
Não digo, não desminto também,
Só por alguma vontade inata,
Um desejo de fazer o bem

Inata, quem diz, não conhece os perfis
Daqueles que passam dias no escuro
Sem esperar por uma luz:
Eles não sabem mais o que os seduz

Contraria à lei do Amor fingí-lo, mediocrizá-lo.
Também não deveria,
Mas poderia
Não maltratá-lo?

Não julgo, pois martelo não tenho
Não digo, pois boca deixei de lado
Pra na vinda da palavra, me atenho,
e escrever de cada dia, refugiado.



João Victor já não ouve mais nem um indigno "como vai" em resposta. Graças. Graças ?

13 de setembro de 2009

Desenvoltura

Somos donos dos nossos atos
Mas não somos donos de nossos sentimentos;

Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;

Podemos prometer atos,
não podemos prometer sentimentos...

[Rubem Alves]



























O que o poeta quer dizer

no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.

Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,

seu clarão seu perfume?

Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?

A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes

só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa

de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,

um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos

No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:

subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

[Ferreira Gular]


Ah, pelo menos a prova da UERJ me trouxe mais um texto espetacular.
Acredito que esses dois, juntos, expressam melhor o que eu devo estar sentindo agora.



1-Eu não sei o quê; também não preciso de saber.

Como, ou quando, o vento sopra e o barco balança.

"Cinco idiotas passavam por uma aldeia. Quando as pessoas os viram, ficaram surpresas, pois carregavam um barco acima da cabeça. Era um barco grande e os cinco estavam quase morrendo sob seu peso. Perguntaram a eles: - O que vocês estão fazendo? Eles responderam: - Não podemos abandonar o barco. Este barco nos ajudou a vir da outra margem até esta. Como poderíamos deixá-lo? Por causa dele conseguimos chegar até aqui. Sem ele, teríamos morrido na outra margem. Já era quase noite e apareceram animais selvagens na outra margem; com certeza já estaríamos mortos agora. Nunca abandonaremos este barco, pois temos uma dívida eterna com ele. Vamos levá-lo sempre sobre nossas cabeças em total gratidão." Osho, Meditação.


Não me diga o que devo aprender.
Não me ensine.
Não me mostre os caminhos, ou como devo seguí-los.
Não seja meu mestre, nem queira fazer de mim seu súdito, seu aprendiz de feiticeiro.
Não estou à altura, mas também não quero alcançá-la. Mas não nego que me passe sua luz, que ela me seja dada e que me faça um bem sem igual. Só peço para que me passe-a sem deixar com que eu a perceba, para que a luz não me leve a vista ao longe e "far, far away", e eu me torne mais um cego. Ou simplesmente mais cego do que antes. Também te peço para que não deixe de seguir seu caminho e seu modo de ser e existir; peço que faça diferente comigo, e só comigo. Não sou especial, nem menos do que os outros. Só não quero. Só não posso.
Quero ter o prazer de conhecer sozinho. De me conhecer sozinho. De ler os livros mais belos. De me ler sozinho. Porque tudo o que leio, sou eu, porque pra mim, estamos todos em todas as partes e você, se torna evidente na minha mente quando observo uma árvore frescamente parada. Vou seguir sozinho agora, eu e meu barco novo, guiando-o e sendo guiado por ele. Porque eu preciso, sozihnho, navegar. Não me interessa agora conhecer todo o profundo mar que eu sou. Me basta saber de que sou capaz de navegá-lo. O que me importa agora é conhecer outros mares, outras profundezas...

Obrigado.

(releitura do magnífico texto de Clara Leitão, em "Mestre")

12 de setembro de 2009

Little days could've changed my point of view at the world. But, little eyes had changed my own point of view, at all.

Começava sempre assim:
 
Ou o dia era chuvoso, ou da chuva nascia um novo dia. Eu sempre estava ansioso pela oportunidade de poder dizer algumas boas palavras nos ouvidos da Marcie, mas ela nunca parava quieta durante os recreios e, os únicos momentos em que conversávamos, era quando chovia. Quando eu não conseguia abrir a boca e falar com ela, era só mais um dia chuvoso. Quando os lábios se abriam e ambas cordas vocais começavam a vibrar com o ar pleno dos pulmões saindo, eu dizia palavras; nós conversávamos e da chuva nascia um novo dia.
Numa segunda-feira de agosto, ela me disse que iria cortar os cabelos mais curtos e que iria pintá-los, da mesma cor que os cabelos já eram só para poder atenuar a cor. Disse que iria ficar lindo e que ela ficaria mais linda ainda. Só.
 
Noutra terça-feira, em outubro, disse à ela que seu cabelo estava lindo. Ela já havia perdido a cor da tinta a muito tempo e ficou me olhando confusa. Não consegui dizer mais nada e fui embora, virando os pés e saindo pela chuva.
 
Na quarta-feira de fevereiro ela aparece com o punho engessado, e eu me preocupo de verdade.
Bem, agora percebo que eu sempre me preocupei de verdade com ela, mas não percebia isso. E que, de qualquer modo, ela já estava de braço engessado. Logo não havia com o que me preocupar, mas, mesmo assim, eu me preocupei. Perguntei se estava tudo bem e ela disse que sim, olhando pros meus sapatos velhos. Era início de voltas às aulas e todos os alunos haviam comprado calçados novos. Menos eu.
Mesmo dizendo que estava bem e, que seus olhos brillhassem mais do que nunca, pergunteil-lhe se estava sentindo dor ou algum incômodo. Ela fez que não, olhando ainda um pouco para os meus sapatos.
Então, ela simplesmente disse: "Gosto tanto dos seus sapatos pretos... eles lhe caem muito bem."
 
Perdi as palavras. Meus braços geleram ambos, minhas pernas pareciam se dobrar ao meio e, eu estava em pânico. A boca secou, as cordas não vibraram. Eu estava sem ar algum dentro dos pulmões, mesmo respirando rápido feito um animal acuádo.
 
 (...)
 


continuo depois, porque a moça vai limpar o quarto.

11 de setembro de 2009

All the things we did, they're all gone, they've been all seized. There's nothing left to do, but there's a hole lot left to learn from.

Acho que não disse ainda obrigado a Deus, ou à energia do Universo por ter-me dado a capacidade de dicernir virtudes de fraquezas.
É dificil perceber em alguns momentos que é melhor ser calado, do que dizer tudo o que não pensa;
que conviver com quem não vive com você. Ou mesmo com eles próprios.
Que um grito na verdade é um choro. Uma reprimida necessidade de acreditar que pode-se viver melhor.
Que um choro é apenas um choro. E que quem chora, precisa de um abraço.
Que contar com algo não é ter certeza da lealdade que lhe é creditada; mas saber que se pode acreditar até que lhe seja requisitada.
Que perder nem sempre é ganhar. Mas ganhar é ganhar, e perder é perder. Não se ganha perdendo nem ganhando se perde.
Que vale mais a pena não dizer nada e ouvir de tudo e manter-se na linha;
Que vale mais um pássaro na mão, do que dois voando, e caindo de cara no chão;
Que mulher não é bicho ruim; homem é que é.
Que comer buceta não é amor; e que amor não olha as pernas da loirinha gostosa alheia.
Que o céu é azul, apesar de toda a poluição que jogamos nele. Ele continua azul, e vai continuar assim por um bom tempo. Mas um bom tempo mesmo.
Que amor de mãe, carinho da véia, conversa com a progenitora, nada disso pode ser superado.

E que é melhor escrever sozinho um texto, do dizer coisas que não vão entrar na cabeça dos outros. Mesmo que o texto não seja nada...
Só pra reafirmar a minha indignação indolor, insípida e inodora.


-Imagem retirada do postsecret.

10 de setembro de 2009

Depois de páginas, o que sobra são palavras versadas desproporcionalmente

é um nó de contorcer
a barriga,
e quebrar as juntas
dos dedos,

e

furar os olhos
e arrancar os braços
amarrados a duas
pick-ups.

Ser furado pela faca
do menino de rua,
com suas doenças
e desgostos
e fúrias
e anseios
e dúvidas
e arrependimentos.

É a certeza de estar certo
de que a morte é teto
pra quem não quer mais
ser feliz.

aluga-se.

9 de setembro de 2009

O que acham? Escrevi ouvindo MPB e com o lívro de química aberto em 'Hidrólise'.

 - O que eu espero senhores, é que depois de um razoável período de discussão, todos concordem comigo.

A conversa foi interrompida relampeantemente, por um estrondo sensível aos olhos. Não havia exaltação, havia o acúmulo dela. O que poderia ser pior? Fora extravazando o que podia, calmamente, num argumento sem bases, sem porquês, e por isso mesmo absolutamente plausível. O que é, não precisa explicar-se.

" - Mas isto é um ultraje! Como podeis dizer-nos que és detentor de tal conhecimento abrangente, sendo que és menos do que um fedelho recém-saído das tetas de tua mãe? " _ disse um dos velhos, o de cabelos mais grisalhos e ondulados, poucos fios e penteados milimetricamente para trás.

 - Pois que é assim, não acreditam? Tentem viver-me então, cruzados dos tempos! "
" - Ora moleque! Sua inaptidão para o concurso da conversa não lhe saltou aos olhos inda? Já não vês que tua mácula aqui só faz aumentar? " Fora agora o homem do meio, o mais novo deles todos, portando uma bengala de mogno,  um charuto marroquino. Palavras desferidas afiadas e provocadas. Deveria de ser um médico ascendente...

- Parecem que se esquecem, que se perdoam e que absolvem suas lembranças do tempo em que eram ainda como eu, um fedelho recém-saído das tetas da mãe, mas que sabia mais do que aqueles que não viam tetas à tempos! _ e o rapazote, calcanhado em meros quinze anos, havia finalmente despertado olhares revirados e avermelhidos._ Não veem? Não sentem mais? Suas vias de sensibilidade foram obstruídas, todas? Sendo assim, dar-lhes-ei costas e um ponto final em tal questão: Quem não é bom, não deve conviver, com quem for.

Senhores de boa vida, de vida boníssima, de vida fácil e bem vivida. Haviam visto tudo o que poderiam ter visto e, por isso, só conheceram aquilo que lhes foi possível de galgar conhecimento. Pois que é, eles não haviam sido menos. Eram todos, e sempre todos foram os melhores, os mais importantes e os mais interessantes em todos os grupos sociais e em todas as classes reinantes. Eles eram velhos, podres, ricos.



A questão fora a seguinte, antes que todos se confundam e se perguntem "o que é que acontece, afinal?":

Dois senhores, um vindo de uma direita, outro de uma esquerda, se encontram e se cumprimentam cordialmente de frente a um "venicultatasse", ou vinícola hoje em dia, com a simples finalidade de servir doses de vinho das mais variadas classes, para homens capazes de experimentá-los sem enlouquecerem-se pela luxúria. Claro, já eram todos caídinhos pela luxúria, inclusive os dois alí.
O que os avistava, desdenhoso, porém, não tinha quedas pela amiga dos homens-animais. E por isso, havia se tornado sovino, arrogante (mais do que os outros todos), claramente um porco quanto ao respeito por pessoas. Mas, era um médico, e era menos velhaco do que os dois ali, parados, conversando sobre a luz do dia e a saborosa fragância dos vinhos.
E todos, podres, de rico.

" - Que Deus os alumie, boa tarde..."
" - E era justamente da pessoa do senhor que precisávamos, doutor. O que nos diz, quanto ao fato do homem bom conviver com todos, e o ruim conviver consigo mesmo? Ou, para mim, com ninguém! "_ seus olhos vermelhos pelo cansaço do trabalho, das noites mal dormidas pelo excesso de remédios e de livros o faziam perder a pouca lucides nas faces.
" - Homens não são bons, ou são maus. Homens são homens, todos os homens são puros e indistinguíveis ante o mundo, até que o mundo lhe injeta o que se pode chamar de vida, como a conhecemos. A vida faz mal ao Homem. "
 Os dois senhores se entreolham por dois segundos ou menos, quando o mais velho:
" - Meu caro: não digo que pelas olheras, ou pelas linhas avermelhidas que saltam das tuas órbitas, mas sim pelas palavras tuas que estás cansado! Sua resposta não responde à nossa pergunta, oras!  Larga dos teus charutos e vá-te descansar a carga! _ disse-lhe, com aquele sorrisinho desdenhoso-socialmente-aceitável, palpável somente aos seres de vida social inócua.

" - Ahn... então, que me desculpem os senhores, mas poderiam dar-me licença então para poder descansar a minha carga enfadonha? "_o tom comum e grosso de quem não se importa, mesmo tendo uma opinião fixada na testa.

Dá um meio giro de pés de quem não espera respostas e, puxado pela barra das vestes ele é parado por um jovem sujo e fedorento.

- Moço, dá-me um trocado? Eu limpo teus sapatos! Olha cá, graxa da Germânia, verdadeira! O serviço é rápido e...

" - Passe reto, filhote de nojo! Tuas mãos não deveriam sequer pensar em sentir meu mais pobre casaco de couro, quanto mais tocá-lo! Corre daqui que não te dou um tasco, pois sou doutor e bondoso! "

 - Perdoe o atrevimento! É a fome que é grande, e maior a minha vontade de ver-me livre dela! Sou bom no que faço, e vendo tão bondoso e médico senhor espero poder deixá-lo mais formoso do que já és aos olhos das damas...

Os velhos atrás dele lhe chegam, e um deles bate nas costas, chamando:

" - Larga mão de pomposidade! És homem de virtudes, ou desvirtuamentos, han? Sentemo-nos ali naquela mesa e peçamos vinhos para nós, e um banco tosco para o moleque lhe limpar os sapatos enquanto falamos do Homem, e enquanto esse moleque nojento lhe deixa, mais formoso aos olhos das damas... "_uma vez mais, o sorrisinho desdenhoso-socialmente-aceitável...

Se havia algo que não admitia, era a palavra moleque conjunta com ele. Não era mais moleque, disso se sentia certo, preciso como a agulha de sua mãe nas roupas caras, dos homens ricos, podres. Mãos calejadas aqueles que seguravam tão importantes fios de metal. (...)




Foi só uma idéia, uma vontade loucamente consumível de escrever algo, "grande", como um capítulo. É, não ficou bonito, mas foi um início, e inícios tem de ser feios.

3 de setembro de 2009

Não me ligue às 4 da manhã pedindo dinheiro, droga

 O que você não faz



 
O vento é cada vez
mais forte
e as árvores lá
fora balançam
e dizem que você
não volta mais para
casa hoje
 
vai passar pelas
ruas, com estranhos,
sorrindo com eles como
se fossem seus amigos
e isso vai te fazer bem.
 
Bem suficiente para te matar
te aniquilar
te deixar pior do que a merda
verde que cagam os que comem
mal.
Não há ônibus pelas
ruas da Tijuca numa madrugada de 
quarta
 
muito menos amor.
 
Volte para casa
fique por lá
e beba toda a cerveja
e todo o whisky que o seu
dinheiro largo pode pagar.
 
Aquela puta não vai te dar amor;
talvez uma sífilis
mas eu sei que você
não quer morrer
cedo.
 
Pelo menos o
desamor não vai te seguir até lá.
 
Pelo menos.


As lembranças voltaram hoje, com o cheiro desagradável da maconha do pivete de rua. Foram embora já.
Não faz sentido dividir as pessoas em boas e más. Pessoas são apenas encantadoras ou monótonas, dependendo do nosso grau de debilidade e desgaste mental às 7:45 da manhã, e à 13:30 da tarde.

Não vale a pena, também, dividir as pessoas em feias ou belas. São todas feias, são todas pessoas cansadas e desanimadas. E aqueles que são despertos e vivos, ficam enfeiados pela névoa de morte que ronda os mortos. 

Claro.

Não se pode dizer o que é certo ou errado, porque tudo está errado: pessoas que fingem não se olharem, quando se cruzam os olhos;
gestos desavergonhadamente contidos dentro de palavras vazias, só pra evitar uma possível exposição ao ridículo. Coisas desse tipo.

Que nojo.

Eu sinto nojo. Enojar-se é nojento, é digno sentir nojo de quem sente nojo. Olhem na minha cara: é cara de nojo. Sintam nojo dela, é nojenta. Eu faço isso, façam comigo também, pois mereço tal.

Eu estou bem, apesar de tudo. Aliás, apesar de nada.
Os últimos dois dias têm sido relaxantes. Uma ausência de odores e raciocínios argumentativos me aliviam a mente. É complicado não pensar e não dizer, e dizer não pensando se torna mais relaxante do que Jazz e vinho.

Só gostaria de compartilhar aqui que, não tenho sentido necessidade de compartilhar nada com ninguém, mas também não tenho sentido nada de ruim por alguém, nem mesmo quando deveria. Acho que estou deixando de ser misantropo. É, misantropo. Sempre fui um bocado, vez por outra um bocado demais.

Eu parei de estudar a Química, e vim estudar a vida. E cai no vestibular o que eu escrevo aqui? Cai. E cai que é uma beleza.

Abracei o dia lindo numa sala feia e recebi um chupão do amor.

 Os bobos também amam, de verdade



Aqueles olhos 
castanho escuro
me olhando esperando
algo de mim

lhe pergunto o que ele
faria se sua mulher fosse
também sua amiga

ele me diz coisas
me diz como fazer
como dizer
como andar na 
linha
e até como sair
dela.

Sua vontade de ajudar
de ser 
solícito
útil
me toca

poucas palavras me fizeram sentir tamanha humanidade em um humano assim
tão menos foram os humanos que conseguiram me fazer sentir tanto em tão 
poucas palavras.

fico grato por ter-lhe perguntado
algo normal
algo comum.

Baixo minha cabeça e
sigo copiando matérias ao
longo do dia

ao final,
ele me pergunta se havia
me ajudado
e eu lhe respondo dizendo:

"você me trouxe amor".



" - Sempre vem de onde menos se espera" ; MEN-TI-RA

O Resultado da Concentração e da Distância de tudo o que me fazia um mal Impossível

 Os arames estão nos esmagando
  

 
demais
tão pouco
 
tão gordo
tão magro
ou ninguém
 
risos ou
lágrimas
  
odiosos 
amantes
  
estranhos com faces como
cabeças de
tachinhas
  
exércitos correndo atravéz
de ruas de sangue
brandindo garrafas de vinho
baionetando e fodendo
virgens.
  
ou um velho num quarto barato
com uma fotografia de M. Monroe.
  
há tamanha solidão no mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio.
  
pessoas tão cansadas
mutiladas
tanto pelo amor como pelo desamor.
  
as pessoas simplesmente não são boas umas com as outras
cara a cara.
  
os ricos não são bons para os ricos
os pobres não são bons para os pobres.
 
estamos com medo.
 
nosso sistema educacional nos diz que
podemos ser todos
grandes vencedores.
 
eles não nos contaram
a respeito das misérias
ou dos suicídios.
 
ou do terror de uma pessoa
sofrendo sozinha
num lugar qualquer
 
intocada
incomunicável
 
regando uma planta.
 
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
 
suponho que nunca serão.
não peço para que sejam.
 
mas às vezes eu penso sobre
isso.
 
as contas dos rosários balançarão
as nuvens nublarão
e o assassino degolará a criança
como se desse uma mordida numa casquinha de sorvete.
 
demais
tão pouco
 
tão gordo
tão magro
ou ninguém
 
mais odiosos que amantes.
 
as pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.
 
enquanto isso eu olho para as jovens garotas
talos
flores do acaso.
 
tem que haver um caminho.
 
com certeza deve haver um caminho sobre o qual ainda
não pensamos.
 
quem colocou este cérebro dentro de mim?
 
ele chora
ele demanda
ele diz que há uma chance.
 
ele não dirá
"não".





Diferente dos outros textos, este demorou bastante para vir a se completar: um dia inteiro.

2 de setembro de 2009

Lilith

Eu queria ter te ligado de volta
e dizer todas as coisas em que pensei em dizer e não pensei
e não disse.
   

Foi muito bom poder ter te ligado e, dito tudo aquilo do fundo do coração e, saber que é real, que não é mais um pensamento conturbado pelo meu cotidiano fatídico. As palavras correm solto, nossos risos nos fazem levitar e o dia, e o calor, e a fome de aluno se esvaem. Só fica a energia, a força, a vontade.
 
 
Você me faz bem, nas mais complexas possibilidades; das mais diminutas às mais altíssimas, perpassando por entre as minhas fatigas e as suas próprias.

  
O mútuo entendimento, a docilidez nas palavras, nos dizeres; o carinho intrínseco e tão explícito. Tudo, desde o alô ao mais simples tchau, (passando por uma imitação boba de tu-tu-tu-tu-tu, porque eu tenho de desligar primeiro) até o pós-diálogo, onde eu começo a escrever e
tento dizer aquilo tudo em que pensei dizer e não pensei
e não disse.
  
  
Que bom que você quer Engenharia Química, amor. Vamos nos ver.




Porque usar o telefone, nem sempre é ruim. Foi ótimo.